terça-feira, 17 de junho de 2008

"Fale de amor, se for preciso use palavras"

Tenho percebido, ultimamente, algo muito constante entre as pessoas que acreditam na transcendentalidade: Tem havido uma divisão da espiritualidade da “mundanidade”. E com esta dicotomia, tem vindo a indiferença e o repúdio pelo que é humano. Nesse contexto, tentamos ser cada vez “menos humanos” para sermos mais santos. E fica a falsa idéia da conceitualização da santidade como algo desconexo e alheio às nossas vidas terrestres e materiais.

E então, por separar o espiritual do “material”, não entendendo-os como coisas coexistentes, e até mesmo conseqüentes, as pessoas tendem a se tornar menos sensíveis aos seres humanos e suas mazelas. E se alienam do mundo em seus “templos sagrados”, em busca de uma santidade cada vez mais individualista e “menos humanizada”.

A santificação tem sido entendida como a tentativa de nos tornarmos dignos da salvação. Porém, devemos entender, que só há possibilidade de santificação e libertação pessoal no plano espiritual através da Graça santificadora e redentora de Cristo. E esta redenção se dá de forma “arbitrária” por Deus, através de Cristo que já fez TUDO na cruz, nos tornando totalmente incapazes de justificação pelo que foi feito em nós. No entanto, segundo Paulo, essa graça, a salvação, continua a se realizar em nós, devendo ser desenvolvida, para nos tornarmos irrepreensíveis e sinceros filhos de Deus(Fp 2:12). Precisamos desenvolver a salvação, e não conquistá-la, visto que só desenvolvemos aquilo que já possuímos.

Aquilo que o evangelho nos convida a ser tem intima ligação com a Graça. Jesus nos convida a amar o nosso próximo! E não apenas como resultado da transformação ocorrida pela em nossas vidas, mas como meio para alcance da salvação. Por termos sido justificados pela Graça e por termos Cristo em nós, é incompatível sermos indiferentes às necessidades e opressões do nosso mundo material. “Jesus veio para que tenhamos vida, e a tenhamos em abundancia”. A Graça de Deus é libertadora, e deve ser em todos os sentidos! Portanto, aquele que foi remido e liberto por Cristo, não se conforma (e não tem como!) com as opressões, seja a espiritual pelo pecado, seja a material, pelo mundo. A Graça, então, é causa, das quais a luta pelas libertações espirituais e materiais são conseqüência.

A Graça libertadora de Cristo é de tal modo profunda e eficaz que nos afeta em todos os aspectos de nossas vidas. Ter uma vida transformada pela Graça, em santificação, nos faz ser, portanto, essencialmente humanos e atentos às necessidades das pessoas. Não é possível viver pela Graça e amar nosso semelhante e ainda assim sermos inertes a tudo que acontece em nosso mundo material. Nós, como instrumentos reveladores de Deus ao mundo, tendo sido transformados por meio de Cristo, e por amor ao próximo, devemos valorizar a vida e tudo o que ela representa!
Nos santificarmos, portanto, é vivermos a real expressão da Graça em nós e através de nós.

Viver pela Graça é não aceitar uma sociedade desigual, onde os mais fracos são oprimidos(Mt 23:14) ; É ser separado e buscar o Reino de Deus, mas não separado do mundo, e sim separado NO mundo, vivendo a diferença da transformação divina em meio ao mundo material; É colocar o valor da vida acima do valor das coisas(Mt 23:23); Viver pela graça é viver a misericórdia em meio à turbulência do ambiente secular, ao invés do calmo ambiente religioso, que não está inserido nas dores humanas(Mt 9:9-13); É entender que o altar de Deus, não é apenas os dos templos, mas também os dos corpos de irmãos que são oprimidos por um mundo vil e desigual.(Lc 10:25-37)

É viver a expressão máxima do AMOR, que é sensível, libertador, transformador e sincero!
'Que falemos de amor, e se for preciso, que usemos palavras!!'